quinta-feira, 30 de abril de 2015

'Covardia tremenda', diz professor atingido durante confronto com a PM

Polícia e professores em greve entraram em conflito por 2 horas no Paraná.Professor protestaram contra projeto que altera previdência estadual.

O professor Márcio Henrique dos Santos, de 34 anos, que levou um tiro no olho durante o conflito entre docentes e policiais militares no Centro Cívico de Curitiba na quarta-feira (29), disse que registrava imagens do embate quando foi atingido. “Eu não estava atirando pedra, pedaço de pau, nada.”

“Eu acho que isso é uma covardia tremenda. Porque se é uma tropa para difusão, para poder manter a ordem, e, principalmente, tratando-se de professores, eu penso que não havia necessidade de mirar na cabeça”, afirmou nesta quinta-feira (30).

Durante quase duas horas, o clima foi de tensão no Centro Cívico. Os professores, que estão em greve, protestaram durante três dias contra o projeto de lei que altera a forma de custeio do o regime próprio da Previdência Social dos servidores paranaenses – ParanaPrevidência. Na terça e quarta-feira houve confrontos.
O Batalhão de Choque da Polícia Militar (PM) fez uso de bombas de efeito moral, spray de pimenta, balas de borracha e gás lacrimogênio para evitar a aproximação dos manifestantes que queriam assistir à sessão plenária.

Professor Márcio Henrique dos Santos se fere em confronto em Curitiba (Foto: Samuel Nunes/ G1)

Nesta manhã, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) realizou 160 atendimentos, sendo que 63 pessoas foram levadas para Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e para hospitais por terem ferimentos mais graves.
Márcio criticou a ação da polícia para inibir as manifestações. Ele acredita que elas são um direito constitucional a ser respeitado e, acima de tudo, exercido.
“Se você tem no papel o direito de se manifestar e de lutar por seus direitos, dentro da Constituição, é o mínimo que podemos exercer. Não vai ser um tiro desse que vai me tirar essa concepção que tenho de democracia”.

Uns óculos de proteção, normalmente usados para o trabalho na construção civil, impediu que o ferimento no olho do professor fosse mais grave.
“A minha sorte é que eu estava utilizando os óculos e, com a pancada do tiro, os óculos bateram no meu nariz e o cortaram, sendo o suficiente para todo aquele sangue”, contou Márcio Henrique, que é professor de Geografia em Londrina, no norte do Paraná.
Ele disse que comprou o equipamento para fazer pequenos serviços em casa, mas decidiu levá-lo para o protesto para se proteger do spray de pimenta.
A dor, naquele momento foi enorme, descreveu o professor. Agora, já medicado, ele se sente melhor. “Estou conseguindo enxergar, mas com muita dificuldade por causa do inchaço do olho.”
O professor faz questão de destacar que os professores não estavam lá apenas por causa própria. Ele diz que a luta era por todo o funcionalismo público, que será atingido pela mudança aprovada pelos deputados estaduais.
O sentimento de indignação é compartilhado por demais professores que também vivenciaram o conflito no Centro Cívico. O professor Rogério Zantti, de 46 anos, atua na rede estadual de ensino desde 1990. Ele criticou a ação da polícia.

“Não somos arruaceiros e merecemos respeito, como cidadãos e professores (...). Eles trataram os professores e trabalhadores como bandidos”, disse o professor de História.

Sobre as cenas que presenciou com revolta, Rogério Zantti mencionou os feridos, o desespero dos professores e ainda o problema envolvendo a creche que foi invadida por gás lacrimogênio. "Como voltar ao trabalho nesse estado? Estamos ultrajados, chocados e ofendidos."

 
Governo lamenta confronto
A Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná, por meio de nota oficial, lamentou o confronto entre policiais militares.

O comando da polícia informou que a Polícia Militar reagiu a ação de manifestantes que tentaram romper a área de, pulando as cercas e indo de encontro à barreira policial.
Possíveis abuso ou excesso de força serão investigados. A PM divulgou que a abertura de inquérito policial militar para apurar a conduta dos profissionais envolvidos no confronto desta tarde, com o acompanhamento do Ministério Público do Paraná.

A Polícia Civil também está conduzindo um inquérito para apurar a participação de outras pessoas que incitaram e deram início ao confronto. Também será requisitada perícia da Polícia Científica no local para verificar danos ao patrimônio.
Igualmente, por meio de nota oficial, o Governo do Paraná também lamentou o ocorrido e atribuiu a responsabilidade a pessoas "estranhas ao movimento dos servidores estaduais" os atos do confronto e as agressões.

Protesto no Paraná (Foto: Giuliano Gomes/ PRPRESS)
Protesto no Paraná (Foto: Giuliano Gomes/ PRPRESS)
 

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